sexta-feira, julho 21, 2006

E de Edmundo, Pituca e Bolachão

Oi, Pessoas! Tudo bem?

Prosseguindo com as minhas Memórias de Leitora, chego à letra E, que duas pessoas já apostaram que seria de Emília. Bom, sinto desapontá-los, mas, embora reconheça o valor da obra de Lobato - e aprecie, principalmente, os livros nos quais o autor envereda pela Mitologia - este post é dedicado ao trio protagonista de um dos livros mais queridos, lidos e relidos da minha infância: Edmundo, Pituca e Bolachão, de O Gênio do Crime, do brasileiro João Carlos Marinho.

O Gênio do Crime conta a história de três meninos de classe média de São Paulo que ajudam a desmascarar uma quadrilha de bandidos. O crime não é dos mais hediondos - numa gráfica clandestina, a quadrilha imprimia figurinhas falsificadas de um álbum sobre futebol - mas, quando um dos garotos é apanhado em flagrante, o perfil dos bandidos se torna mais sombrio, e por isso mesmo mais realista. Realista e, ao menos naquele tempo, assustador. Afinal, na época em que o li - já lá se vão quase trinta anos - a violência que hoje faz parte do nosso cotidiano ainda não se tornara tão banal, e a idéia de uma criança (mesmo uma como o Bolachão) mantida em cativeiro, ameaçada e à beira de ser torturada e morta por criminosos bastava para deixar o coração em sobressalto.

O suspense, porém, é apenas um dos pontos altos do livro de Marinho, que - outros já disseram, mas eu assino embaixo - promoveu uma verdadeira revolução na literatura infanto-juvenil, com a temática policial, uma trama ágil, diálogos soltos e naturais, personagens inesquecíveis (quem não lembra do Detetive Invicto?) e um humor que perpassa todo o livro, com elementos que denotam um finíssimo poder de observação. Algumas cenas ficaram para sempre em minha memória: a da conversa entre os três amigos, entremeada pela descrição de Bolachão a comer torradas, num timing perfeito; a do mesmo Bolachão em seu namoro com Berenice, sua gentileza máxima consistindo em abrir mão do último croquete oferecidos pela menina; por fim, a da prisão dos bandidos, em que um constrangido "Puxa vida, que coisa, né?" é a única coisa que o herói é capaz de dizer ao filho pequeno de um dos captores, responsável por descobrir e denunciar, involuntariamente, o crime de seu pai. Tosco (diríamos hoje), mas pensem bem: dizer mais o quê? O que mais poderia ser dito que não soaria como uma lição de moral ou pieguice inútil?

É dessa moral, dessa pieguice, presentes em boa parte da literatura para crianças e jovens, que Marinho consegue se manter afastado. E faz isso com mestria, ora através da inversão do clichê - o Sr. Tomé, dono da fábrica de figurinhas, participa de boa vontade da farsa usada pelos meninos para descobrir a gráfica clandestina, o que inclui enganar seus pais e um diretor de escola - ora através das tiradas desconcertantes de personagens como Berenice: "os garotos da segunda série só sabem contar anedotas elementares e são muito prosaicos". Se a Luciana ficar assim, estou perdida. Mas, enfim... talvez tanto uma como outra estejam dentro do mesmo espírito de "Independência ou Morte" da Emília de Monteiro Lobato.

O Gênio do Crime foi publicado em 1969, o ano do meu nascimento (por favor, não façam as contas!). Meu exemplar era, para variar, da Ediouro - ou muito me engano -, mas atualmente João Carlos Marinho é publicado pela Global. Isso porque, na esteira do sucesso do primeiro livro, que já passou da qüinquagésima edição, o autor escreveu mais doze obras sobre a Turma do Gordo (alguma dúvida sobre quem é o verdadeiro protagonista, mesmo em O Gênio do Crime? eu não tenho), com temas variados como o futebol, a Amazônia e até a pedofilia pela Internet. O último, Assassinato na Literatura Infantil, saiu no ano passado. Não li - na verdade, quando tive o livro em mãos, não me dei conta de quem era o autor - mas estou com vontade de comprar, para ver como é ler, hoje, um autor que me encantou e me divertiu há tantos anos. Não sou mais criança, é verdade. Lerei com outros olhos. Mas, mesmo assim, tenho certeza de que vou reviver os bons momentos que passei em companhia da escrita de Marinho.

Abraços a todos,

Até a próxima!

Ana Lúcia

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