terça-feira, julho 06, 2004

O Lobo Esperto

Para uma Boa Manhã de Sábado

Café com leite fumegante.
Beijo na testa.
Usar somente o necessário.

Cuidado, Papai Urso:
Cachinhos Dourados
Vai pular no seu colo.


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Pessoas Queridas,

Esse aí em cima é mais um dos meus poemas bissextos, dedicado ao “papai urso” lá de casa... O João, é claro!

“Cachinhos Dourados e os Três Ursos” é, ultimamente, uma das histórias favoritas da Lulu, junto com “Os Músicos de Bremen”. O curioso é que ela, que se dizia a “Cindy Lou Who” que aparece no “Grinch”, agora protesta furiosamente ao ser chamada de “Cachinhos Dourados”. Ela é a Luciana, e ponto final. Ontem, no entanto, ela me surpreendeu ao passar para o meu clã... quer dizer, mais ou menos. Vejam como foi:

Lulu (erguendo a cabeça): Ay-ooooh...
Ana: Que é isso, filha? Que bicho é esse?
Lulu: O lobo.
Ana: Ah! Agora você é lobo, é?
Lulu: Sou. (pensa um pouco) Mas eu sou o Lobo Luciana... tá bom?

E com isso eu me lembrei de uma história que, há muito tempo, inventei para a Marina... A história de um lobo que não era mau, mas também não era assim tão bonzinho. Então, resolvi que já dava para recontar a história para a Luciana, usando alguns elementos retirados do nosso dia-a-dia. Querem saber como ficou?

Então, Senhoras e Senhores, aqui vai, revista e recriada...


A HISTÓRIA DO LOBO ESPERTO

Era uma vez uma menina chamada Chapeuzinho Vermelho. Um dia ela foi levar uma cesta cheia de doces para a vovozinha dela, aquela que era vizinha da Cachinhos Dourados. De repente, Chapeuzinho viu aparecer um lobo - e é claro que ela levou um susto enorme.
- Aaaai! O lobo mau! – ela gritou. Mas aí o lobo avançou, com um ar todo preocupado, e disse assim:
- Oh, não, menininha! Não fique assustada, eu não sou o lobo mau... Sou o lobo bom!
- Lobo bom? – Chapeuzinho ficou desconfiada, mas continuou ouvindo. – Eu não sabia que existiam lobos bons!
- Pois existem e eu sou um deles – disse o lobo. - Sabe o que eu vim pedir a você?
- Não...
- Vim perguntar se não pode me dar uns docinhos, aí dessa sua cesta, para eu levar para os lobinhos da Casa do Lobinho Pobre. Você tem tantos aí... E os lobinhos gostam tanto de doce, coitadinhos...
Ouvindo isso, Chapeuzinho Vermelho ficou toda comovida. Por que não ajudar os lobinhos? Além disso, a cesta dela estava muito cheia, e a vovozinha era muito gulosa. Se comesse todos aqueles doces ela ia passar a noite toda com dor de barriga. Então, Chapeuzinho disse:
- Claro, seu lobo! Tome aqui esses docinhos!
E zás-trás... Ela deu ao lobo um brigadeiro, um quindim, um pudinzinho e uma fatia de bolo. O lobo ficou todo feliz e disse:
- Muito obrigado, linda menina! Minhas lembranças à Vovó!
E se despediu, tirando a cartola (que ele tinha pegado emprestada do Gatola). A Chapeuzinho pegou a cesta e foi embora, contente, porque tinha ajudado a Casa do Lobinho Pobre.
Mas... Sabe de uma coisa?
Essa casa não existe, porque os lobinhos moram todos com o papai e a mamãe e os irmãozinhos deles. Quando ficam sem família, eles logo encontram uma família adotiva, que nem aconteceu com o Patinho Feio. Sério...! Os lobos adotam até crianças como o Mogli, que dirá outros lobinhos...!
Então, o que tinha acontecido é que o lobo, esse que falou com a Chapeuzinho, era louco por doce, e deu um jeito de conseguir alguns sem fazer esforço. Mal a menina tinha sumido das suas vistas, ele sentou debaixo de uma árvore, amarrou um guardanapo no pescoço pra não sujar a roupa e comeu o brigadeiro, o quindim, o pudinzinho e o bolo. Depois, lambeu os dedos e esfregou a barriga: “Ah...! Que delícia...!”
E aí, só aí, ele percebeu que a Luciana estava escutando essa história e sabia o que tinha acontecido.
E então ele virou pra ela e disse assim:
- Viu, Luciana? Eu inventei aquilo tudo, mas a Chapeuzinho não ficou assustada e eu ainda botei um monte de docinhos na minha pança. Isso porque eu não sou um lobo mau. Talvez não seja tão bonzinho assim. Na verdade o que eu sou é... um lobo esperto!

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Tudo bem, eu admito... Isso não teve graça nenhuma.

Mas a Luciana adorou. E me pediu para repetir. E na hora de enumerar os docinhos ela me lembrou que também tinha uma fatia de bolo.

E agora ela sabe que os lobos não são maus, só tentam encher a barriga quando estão com fome. E em geral não fazem mal a ninguém, porque são muito espertos - isso quando não são bonzinhos de verdade, como a família do Mogli.
E assim talvez ela não tenha mais medo do Lobo Mau quando alguém contar a história clássica... até chegar à idade em que realmente poderá entender essa história.

E todas essas coisas deixam feliz o meu coração de mãe.

2 comentários:

Anônimo disse...

Nós, meninas, só temos medo do Lobo Mau enquanto somos crianças...quandoÉcrescemos, depois passamos a desejá-lo. É como o bolo (bolo, lobo...) que Chapeuzinho leva na cesta: sabemos que demais não é saudável, que faz mal e engorda. Mas quem resiste a uma gostosa fatiazinha?

Anônimo disse...

Nós, meninas, só temos medo do Lobo Mau enquanto somos crianças, depois [quando conseguimos fugir das vistas do papai e da mamãe e passamos a desconfiar das histórias que eles nos contavam] passamos a desejá-lo. É como o bolo (bolo, lobo...) que Chapeuzinho leva na cesta: sabemos que demais não é saudável, que faz mal e engorda. Mas quem resiste a uma gostosa fatiazinha?