quinta-feira, agosto 02, 2012

Rei Artur: Lenda ou História?


Nobres Pessoas,

Visto estarmos a um mês do prazo final das submissões para a coletânea Excalibur, decidi postar aqui um texto baseado num artigo que escrevi para a Ciência Hoje das Crianças. A publicação é de 2008 e, desde então, já soube de pelo menos três escolas que usaram o texto para trabalhar com alunos da sexta à oitava série. Espero que os leitores do blog também aprovem. :)

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O "Verdadeiro" Artur

Até o momento não há evidências históricas ou arqueológicas que provem a existência do Rei Artur. Alguns estudiosos sustentam que os relatos a seu respeito se referem ao líder guerreiro dos britânicos na luta contra o domínio saxão, enquanto outros se inclinam a pensar que seria um nobre romano. Há ainda quem acredite que não houve de fato um único Artur, e sim vários líderes cujos feitos, com o passar do tempo, acabaram sendo atribuídos a um só "rei imaginário".

Em meio a tantas possibilidades, o que se pode afirmar é que o Rei Artur - ou o guerreiro em quem se basearam as lendas - viveu e lutou suas batalhas entre os séculos V e VI d. C., numa Bretanha que, durante quatro séculos, ficara sob o domínio de Roma. No início do século V, as legiões que até então ocupavam as Ilhas Britânicas tinham começado a partir para o continente, a fim de defender o Império do ataque de invasores como os godos e os hunos. Os bretões se viram sozinhos para enfrentar seus próprios atacantes, em especial os anglos e saxões. Sem o apoio militar dos romanos, eles sofreram várias derrotas que os levaram a perder parte do território e promoveram uma divisão interna (aquela que é retratada na lenda da espada na pedra).

No meio da disputa entre as facções da nobreza e os pequenos reinos rivais surgiu então o líder que os historiadores da época chamam de Artur, sobre o qual muito pouco se sabe, a não ser o fato de ter vencido batalhas e, com isso, garantido mais alguns anos aos bretões antes que os invasores os dominassem por completo.

A primeira menção ao nome de Artur foi feita por Nennius no século IX. Em sua crônica, História dos Bretões, Artur é descrito não como rei, mas como dux bellorum (duque guerreiro), que teria lutado junto aos reis britânicos em doze grandes batalhas. Artur é citado ainda em dois poemas épicos e numa crônica chamada Os Anais de Gales, que registra sua morte num local chamado Camlann. Já a Crônica Anglo-Saxã, uma das mais importantes fontes para o estudo da história da época, não faz referências a Artur - o que é compreensível, pois a obra prefere dar a impressão de que os saxões venceram todas as batalhas sem dificuldade.

Embora os registros da época sejam poucos e imprecisos, é neles que se baseiam todas as pesquisas sobre o Rei Artur. Muitos estudiosos se dedicaram a localizar os sítios onde foram travadas as batalhas citadas por Nennius, enquanto outros procuram pistas sobre o local de nascimento de Artur. Um dos mais prováveis é Tintagel, na Cornualha, Inglaterra, onde, em 1998, foi descoberta uma pedra com uma inscrição que menciona o nome Artognou, associado com o do rei; essa pedra passou a ser conhecida como “Pedra de Artur” e alguns estudiosos crêem que o local pode ter ligação com o Artur histórico, ou seja, com o líder guerreiro que teria dado origem ao mito.

Já a corte de Camelot poderia ficar nos arredores do Castelo Cadbury, em Somerset, Inglaterra. A hipótese, levantada no século XVI por John Leland, ganhou força após as escavações realizadas por Leslie Alcock entre 1966 e 1970, que revelaram as ruínas de uma grande fortificação. No entanto, o mais provável é que a “corte do Rei Artur” tenha sido uma invenção dos escritores e poetas medievais, assim como a famosa “távola redonda”.

A Literatura arturiana

Se, por um lado, é difícil provar a existência de um Rei Artur histórico, por outro são inúmeras as lendas, poemas, romances e mais recentemente filmes que retratam o personagem. Além das crônicas, ele também aparece em relatos da Mitologia celta, principalmente os que provêm do País de Gales. Não por acaso, essa foi a pátria de Geoffrey de Monmouth, nascido por volta do ano 1.100 e autor de Historia Regum Brittaniae: um relato sobre os Reis da Bretanha que, misturando História, mito e muita imaginação, forneceu as bases para toda a Literatura arturiana surgida a partir daí.

As primeiras obras são os chamados romances de cavalaria, escritos entre os séculos XII e XV. Neles, o Rei, a Rainha Guinevere e cavaleiros como Gawaine, Tristão e Lancelote vivem aventuras em que não faltam magos, fadas, dragões e poções do amor, sem falar em Excalibur, a espada mágica do Rei. Por outro lado, os personagens se comportam de acordo com o ideal cristão de justiça, piedade e generosidade condizente com a época em que viveram os autores. Entre estes podemos citar Chrétien de Troyes – em cujos livros aparece um dos temas mais famosos da literatura arturiana, a busca do Graal, que seria o cálice usado por Jesus na Última Ceia – , os poetas alemães Wolfram von Eschenbach e Gottfried von Strassburg e o inglês Thomas Malory, autor de Morte d´Arthur.

A imaginação dos escritores medievais criou obras maravilhosas, mas por outro lado gerou também um equívoco sob o ponto de vista histórico. A maioria de nós, ao pensar no Rei Artur, imagina castelos de pedra e cavaleiros de armadura, mas isso está bem distante da realidade: nos séculos V e VI d.C. os bretões ainda não construíam castelos. A sede da famosa "corte de Camelot" seria portanto uma fortaleza de madeira. Quanto aos companheiros do rei, é provável que tenham combatido a cavalo, mas as ordens de cavalaria, com seus ideais e códigos de honra, só surgiram por volta do século XII. As armaduras compostas por várias peças sólidas de metal vieram ainda mais tarde. Assim, o Rei Artur, ou o guerreiro que deu origem à lenda, deve ter usado uma cota de malha ou uma armadura de escamas de metal sobre um reforço de couro, tal como os romanos daquele período, de quem os bretões adotaram o equipamento e as técnicas militares.

A popularidade do tema diminuiu um pouco no final da Idade Média, mas tornou a crescer no século XIX, com publicações como a série de poemas Os Idílios do Rei, de Lord Tennyson. Muitos autores contemporâneos se inspiraram na lenda e nos relatos sobre Artur para escrever livros fascinantes. Um que vale a pena conhecer é T. H. White, autor da série O Único e Futuro Rei (1963), no qual se baseou a animação da Disney A Espada Era a Lei. Também são dignos de nota os filmes Excalibur (1981) de John Boorman e o recente Rei Arthur (2004), de Antoine Fuqua, no qual a ambientação está mais de acordo com o período da invasão dos saxões.

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O texto da revista era concluído com um convite ao público mais novo para que buscassem conhecer mais sobre o Rei Artur. Estendo-o a vocês, e faço um convite especial aos escritores para que se juntem ao time ilustre dos que recriaram as lendas arturianas, do qual fazem parte Marion Zimmer Bradley, Mary Stewart, Stephen Lawhead e Bernard Cornwell.

Esperamos por seu conto!


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