domingo, fevereiro 27, 2011

Adeus a Moacyr Scliar


Abrindo o Twitter esta manhã, dei de cara com a notícia da morte de Moacyr Scliar. Isso me entristeceu duplamente, primeiro porque perdemos um ser humano fantástico - quem conhece sua trajetória como escritor e médico sabe disso - segundo porque Moacyr é um dos maiores autores brasileiros dos últimos tempos.

Meu contato com sua obra se deu na adolescência, através do livro de contos A Balada do Falso Messias, que recomendo a qualquer um sem restrições. Depois, aos poucos, fui me apropriando do restante da obra - ou pelo menos parte dela, já que Moacyr era um escritor prolífero. De tudo quanto li, destaco o conto (ou será noveleta?) Os Contistas, onde todos nós, escritores, podemos nos ver retratados pelo menos em algum detalhe, e o magnífico romance O Centauro no Jardim, citado em vários estudos sobre ficção fantástica.

Não vou me estender em análises sobre Moacyr e seu trabalho. Outros o farão melhor que eu. No entanto, não quis deixar o momento em branco, sem ao menos uma nota como homenagem - uma das muitas que virão ao longo do dia e dos próximos dias, por parte de leitores como eu.

Muito obrigada por tudo, Moacyr.

Boa jornada.

terça-feira, fevereiro 22, 2011

A Memória Vegetal


Por estes dias chegou-me às mãos esta (mais ou menos) nova obra de Umberto Eco, que tantas vezes escreveu sobre questões ligadas ao livro e à sua história. O mais conhecido é sem dúvida o romance O Nome da Rosa, mas os interessados no tema deveriam conhecer as obras de não-ficção, como o curto e objetivo A Biblioteca e o recente Não Contem com o Fim do Livro, escrito em parceria com Jean-Claude Carrière, no qual os autores defendem a permanência do livro impresso apesar do E-Book, do Kindle e de todas as tecnologias de informação surgidas e ainda por surgir.

Neste A Memória Vegetal - título surgido a partir da materialidade dos livros, inclusive em formas anteriores aos códices, quando eram feitos de papiro - Eco volta a afirmar que o livro impresso tem um lugar insubstituível em nossa civilização, discorrendo ainda sobre as bibliotecas, o colecionismo, a bibliomania e vários outros tópicos que percorre ao mesmo tempo com erudição, clareza e bom-humor. Também não faltam revelações, desmistificações e curiosidades acerca do mundo dos livros e das edições, bem como uma pitada (aliás generosa) da fina ironia de Eco. Vocês, que como eu já devem ter escutado a pergunta infame de uma visita, "Mas você já leu todos esses livros?" na certa se sentirão vingados diante das três opções, do tipo "tolerância zero", apresentadas pelo autor como resposta.

Ou pelo menos darão uma boa risada. ;)

Grande abraço, espero que curtam a dica!

Ana

quinta-feira, fevereiro 10, 2011

Notícias do Castelo


Oi, Pessoas, tudo bem?

Não é minha intenção repetir aqui os posts do blog do Castelo das Águias. No entanto, assim como o desenho de Anna, o de Kieran - feito igualmente pela Allana Dilene - ficou tão legal que eu não podia deixar de divulgá-lo por aqui. Obrigada, querida amiga, por mais esse presente!

Outras notícias a respeito do Castelo, a começar por sua autora (ou seja, eu):

1. Semana passada, concedi uma entrevista para o Portal Cranik a convite do editor, escritor e promotor cultural Ademir Pascale. Ali, falo um pouco sobre a minha trajetória como leitora e escritora e conto como e onde surgiram as primeiras ideias que iriam desembocar no livro. Convido vocês todos a darem uma olhada.

2. O Castelo das Águias já está em pré-venda! Ele pode ser encomendado (com entrega prevista para 31 de março) nos seguintes lugares:

Editora Draco
Loja Estronha
Moonshadows RPG
Livraria da Travessa
Livraria Cultura

3. Por fim, pra quem participa daquela incrível rede de leitores, o livro também já está no Skoob, e... hum... bom, pode ser que acabe rolando algum sorteio para quem se mostrar interessado. ;)

...

Pois é, amigos. E aqui vou eu, impávida, rumo aos 42. Hoje não parece muito, mas em outros tempos já poderia ser bisavó. E com certeza teria ainda mais histórias pra contar ao redor da fogueira.

Abraços a todos,

Até a próxima!

domingo, fevereiro 06, 2011

Anna de Bryke


Pessoas Queridas,

Para iluminar essa semana, gostaria que vocês conhecessem o blog oficial e ao mesmo tempo a protagonista de O Castelo das Águias, retratada pela minha amiga Allana Dilene, do blog Brainstorm.

Gostaria muito que vocês visitassem, comentassem e se possível ajudassem a divulgar o blog e esse livro, que vem sendo o meu maior projeto nos últimos cinco anos. E que, tenho certeza, a maioria vai curtir, ao menos um pouquinho. ;)

Abraços a todos e obrigada!

sexta-feira, fevereiro 04, 2011

Na Travessia (2)

Sob o sol a pino, o homem e a mulher caminham pela prancha. Ele: moreno e gigantesco, os braços peludos, a testa reluzente de suor. Ela: de pele muito branca, estatura média, com saias longas que, no entanto, deixam seus tornozelos nus. É essa parte do seu corpo que ele açoita, não com muita força, mas repetidamente, a cada passo. A mulher se apressa, tentando se esquivar aos golpes, mas a multidão se comprime ao seu redor, temendo o mar escuro que os colherá ao menor falseio.

Não há escapatória.

Com um suspiro, ela se volta para trás, para o homem alto e moreno que caminha quase colado aos seus calcanhares. Os olhos negros não estão nela e sim no céu: ele entoa em surdina um cântico a seu deus. Ela se pergunta se ele irá compreendê-la, pensa até mesmo em se calar, vendo tão próximos o barco e o fim da provação. No entanto, a próxima chibatada é forte demais para que possa se conter – e assim ela se detém a dois terços da prancha, as mãos plantadas na cintura, dizendo em alto e bom tom:

- Dá pra parar de bater nos meus tornozelos?

Confuso, o homem ainda assim percebe o que está acontecendo e ergue a mochila, recolhendo as longas tiras soltas enquanto murmura suas desculpas. Ela sorri, com um gesto de não-foi-nada, e se vira sobre os calcanhares, aproveitando uma brecha à sua frente para avançar mais rápido. Talvez ainda consiga sentar, embora as barcas encham depois das cinco. Isso seria bom. Em sua própria mochila há um caderno à espera dessa história.

terça-feira, fevereiro 01, 2011

A Décima Espiral


Que a vida não nos separe,
Minha pequena fada,
Minha bailarina.

Que nos teus cabelos,
Espirais do tempo,
Brilhe sempre um Sol que me guie.

Que os caminhos se abram,
Que os barcos não naufraguem,
Que as pontes sempre resistam
Ao peso dos meus velhos passos.

E que ao fim de cada jornada
Haja tempo para um abraço
E para contar histórias.

Para Luciana, em seus 10 anos.