sexta-feira, setembro 09, 2005

Júlio Verne : Histórias que Inspiraram o Futuro



Oi, Pessoas! Tudo bem?

O título deste post é o mesmo da minha última publicação, que foi artigo de capa na Ciência Hoje das Crianças do mês de Agosto. Eu esperava deixar aqui apenas o link, mas desta vez eles não disponibilizaram o texto na íntegra... Então, nada mais justo que eu o reproduza. Como poderia um autor como Verne ficar fora das prateleiras de uma Estante Mágica? ;)

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Histórias que Inspiraram o Futuro

Como você chamaria um escritor que, em suas histórias, fala sobre máquinas, robôs e outras tecnologias que só viriam a ser criadas muitos anos mais tarde? Mágico? Vidente? Viajante do tempo? Ou apenas alguém que possui um grande conhecimento científico... e uma curiosidade ainda maior?

Seja como for, saiba que essa pessoa realmente existiu. Seu nome: Júlio Verne, considerado um dos maiores autores de ficção científica de todos os tempos.

Júlio Verne nasceu em 1828, na cidade de Nantes (França), e começou a escrever na época em que estudava Direito em Paris. Seu primeiro conto de ficção científica, "Uma Viagem em Balão", foi escrito em 1851, sob a influência de outro grande autor do gênero, Edgar Allan Poe. A partir daí, Verne não parou mais, aprofundando-se em pesquisas para dar credibilidade às teorias científicas apresentadas em suas obras.

Em 1863, em parceria com o editor Pierre Hetzel, Júlio Verne começou a escrever uma série de histórias de aventura chamada "Viagens Extraordinárias", que se iniciou com "Cinco Semanas em Balão" e incluiu, entre vários outros livros, "Viagem ao Centro da Terra" (1864), "20.000 Léguas Submarinas" (1869-70) e "Volta ao Mundo em 80 Dias" (1873). Essas obras logo conquistaram leitores em todo o mundo, entre eles o escritor brasileiro Euclides da Cunha, que costumava enviar os livros de Verne a seu filho, aluno de um colégio interno... com a condição de que só os lesse no recreio!

A popularidade era merecida, pois, além de narrativas empolgantes, com heróis inesquecíveis, tais como o misterioso Capitão Nemo (de 20.000 Léguas Submarinas), Verne oferecia ao leitor visões e idéias fascinantes sobre o futuro. No que se refere à tecnologia, suas suposições se baseavam em conhecimentos tão sólidos que algumas das "invenções" citadas em seus livros acabaram por ser de fato, desenvolvidas por cientistas décadas mais tarde.

Verne é especialmente conhecido por antecipar alguns dos princípios que deram origem aos modernos submarinos. Na verdade, as primeiras referências a um barco capaz de se deslocar sob a água datam de 1580, e muitas experiências foram feitas desde então, sendo uma delas a de Robert Fulton em 1800. O engenho, que fracassou em sua missão (afundar navios franceses), se chamava "Nautilus", e este foi também o nome dado por Júlio Verne ao submarino comandado pelo Capitão Nemo. Ao explicar seu funcionamento, Verne demonstrou ter feito cálculos rigorosamente corretos, e sua obra foi consultada por vários dos cientistas e engenheiros que, mais tarde, trabalharam na construção de submarinos. Por isso, mais de um modelo foi batizado como "Nautilus", inclusive o primeiro submarino a funcionar à base de energia nuclear, em 1954.

Além do submarino, Júlio Verne descreveu um equipamento de mergulho mais avançado do que o utilizado na época, o qual também serviu de ponto de partida para futuras experiências. No entanto, o autor não se limitou a explorar o fundo do mar ou o centro da Terra, mas se aventurou em um lugar ainda mais distante e, no século XIX, totalmente inatingível: o espaço sideral.

Em seu livro "Da Terra à Lua" (1865) Verne cometeu alguns deslizes no campo científico - o canhão utilizado por seu personagem para se lançar em órbita, por exemplo, teria provocado a morte dos passageiros, devido à aceleração inicial - mas, por outro lado, previu a existência de foguetes e espaçonaves e até mesmo a tentativa de comunicação com seres extraterrestres. Nesse livro, um cientista alemão descreve seu projeto de criar um alfabeto comum a homens e a selenitas (habitantes da Lua), o qual se basearia em figuras geométricas. No entanto, o projeto não é posto em prática, e Verne conclui dizendo que a comunicação com o espaço sideral caberia, no futuro, aos norte-americanos. A "profecia" acertou em cheio desta vez, pois o primeiro projeto destinado à busca de vida inteligente em outros planetas foi conduzido por um astrônomo americano, Frank Drake, em 1960. Até agora, não se tem provas de que algo tenha sido encontrado, mas no futuro... quem sabe?

E por falar em futuro, um dos mais interessantes contos de Júlio Verne se passa cem anos após a data em que foi escrito. Seu título já diz tudo: "No Ano de 2889". Nessa obra, escrita a partir de uma história de seu filho Michel, Verne põe a imaginação para funcionar, descrevendo tecnologias surpreendentemente parecidas com as que temos hoje, tais como a televisão e o videofone. Dentre as que ainda estão por surgir, ou ao menos ser aperfeiçoadas, uma das mais interessantes é a "máquina de roupas personalizadas", que fabrica e ajusta as roupas de acordo com as pessoas que irão vesti-las. A idéia, que vem sendo desenvolvida por cientistas industriais, foi utilizada no segundo filme da conhecida série "De Volta para o Futuro" (1985-1990). Já no terceiro filme, o cientista vivido por Christopher Lloyd encontra seu grande amor a partir de um interesse comum pelas obras de... Júlio Verne!

Apesar de seu entusiasmo com os avanços cada vez maiores da Ciência, Verne estava atento às questões do seu tempo e aos problemas que podiam surgir, a curto e a longo prazo, para a Terra e para toda a humanidade. Temas como o desejo de liberdade de alguns povos, o colonialismo, o capitalismo e as guerras entre nações aparecem em várias de suas obras, principalmente as escritas após 1900. No conto "O Eterno Adão" (publicado em 1910 por Michel Verne), um historiador do futuro descobre que a civilização do século XX foi destruída por abalos geológicos, enquanto em "O Senhor do Mundo" (1904) um grande inventor se deixa dominar pelo desejo de poder. As indagações surgem até mesmo nos livros onde predomina a aventura: em "20.000 Léguas Submarinas", o Capitão Nemo se mostra descontente com os rumos tomados pela civilização, da qual escolhe se isolar, vivendo com sua tripulação a bordo do "Nautilus".

Pensador, cientista e acima de tudo um excelente escritor, Júlio Verne morreu em 1905, há exatos cem anos, tendo publicado mais de 60 romances, além de contos, ensaios e peças de teatro. Nem todos são conhecidos do grande público, mas alguns fazem parte da lista dos "livros de cabeceira" de leitores de várias gerações. Isso porque, embora tenham sido escritos há muitos anos, eles têm a principal qualidade que torna um livro imortal: são capazes de fazer sonhar as pessoas que os lêem. E os sonhos não têm idade... Vocês concordam?

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Textos que entraram em boxes

Uma Viagem Extraordinária... no Brasil!

Além de expedições ao interior da Terra, ao espaço sideral e ao fundo do mar, as obras de Júlio Verne proporcionam ao leitor uma verdadeira "volta ao mundo". Não só no livro que tem esse título, mas em vários outros, como "Miguel Strogoff" (1876), que se passa na Rússia dos czares, e "Viagem ao Centro da Terra", em que os protagonistas iniciam sua jornada descendo pela cratera de um vulcão na Islândia. Com tantos destinos internacionais, o Brasil não poderia ficar de fora: em seu livro "A Jangada" (1881), Júlio Verne narra uma viagem ao Rio Amazonas a bordo de uma embarcação que ele descreve como "um grande trem de madeira". O livro foi relançado no Brasil em 2003.

Júlio Verne no Cinema

Muitos dos livros de Júlio Verne foram transformados em filmes, séries e até desenhos animados. O primeiro filme a se inspirar em suas obras foi "Viagem à Lua", de Georges Meliès (1902). Também são famosas a versão dos Estúdios Disney de "20.000 Léguas Submarinas" (1954), que ganhou o Oscar de efeitos especiais com uma lula mecânica; a de Michael Anderson de "Volta ao Mundo em 80 Dias" (1956), estrelada por David Niven e Cantinflas; e a do diretor de Hollywood Irwin Allen de "Cinco Semanas em Balão" (1962).

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E aí, o que acharam? Legal, não é? Espero que o público da revista também tenha gostado. Se não... de qualquer forma, posso afirmar que foi pesquisado com seriedade e escrito com muito carinho.

Esse mesmo carinho com que eu desejo, a todos,

Bom final de semana!

Abraços pra vocês,

Ana Lúcia

Um comentário:

Shev. disse...

o mestre verne